domingo, 7 de setembro de 2008

CONTINUISMO A TOQUE DE CAIXA



Jorge Antunes e

Maria Lúcia Pinto Leal

CHAPA 74 A UNB QUE NÓS QUEREMOS

Não vemos qualquer diferença entre a administração anterior, que foi defenestrada pelos estudantes, e a atual, interina, integrada de egressos do governo petista. Constrói-se o continuismo ambilateral: os interinos são representantes do MEC-PT intervencionista, criador da política educacional privatista, e os demitidos foram os implementadores dessa política perversa na UnB. Estes apoiam a Chapa 73 encabeçada pelo Prof. Márcio Pimentel, aqueles apoiam a Chapa 71, encabeçada pelo Prof. José Geraldo.
É a Caixa quem vai tocar os leilões de 27 apartamentos da UnB. A reitoria pró-tempore da Universidade de Brasília, que recebeu missão do MEC para substituir temporariamente o reitor que renunciou, resolveu assumir o papel de reitor definitivo. Não satisfeito em ocupar a galeria de fotos da parede da Reitoria como um mero interino, está tomando decisões temerárias e inconseqüentes sem consultar a comunidade universitária, sem ouvir os Conselhos superiores.
A atual equipe, tal como a anterior, trata a coisa pública de modo autoritário, antidemocrático e tresloucado. Age de modo demagógico e irresponsável, revelando seu perfil continuista nas duas pontas: em sua gênese de abril e em sua futura próxima retirada em setembro. Arma a cama do seu candidato preferido nas próximas eleições do novo reitor. O resumo da ópera pode ser esboçado em poucas palavras, como se segue.
Primeira cena do primeiro ato: a reitoria pró-tempore, incumbida de arrumar a casa em noventa dias, tem seu mandato prorrogado pelo Ministério da Educação, porque se arrastam lentamente suas ações saneadoras.
Segunda cena: os interinos postergam a discussão sobre a realização da Estatuinte, que permitiria à comunidade universitária, de modo democrático e paritário, reescrever e traçar os novos rumos da UnB.
Terceira cena: os interinos resolvem atacar de frente os grandes problemas do HUB, tirando da cartola milhões de reais para reforma do hospital.
Quarta cena: o diretor do HUB, politicamente fortalecido pelas prometidas futuras reformas do hospital, é convidado para ser vice-reitor na chapa do candidato preferido do governo petista e da reitoria pró-tempore.
Ao segundo ato, então, ficam reservados os lances mais audaciosos do enredo. Os milhões para o HUB talvez não estejam garantidos no fundo da cartola. Então, a venda urgente de boa parte do patrimônio da UnB poderá resolver essa questão, de modo a cacifar o preferido candidato a vice-reitor, diretor do hospital.

Essa dilapidação do patrimônio, que já em 1975 era preconizada pela reitoria da ditadura militar, é então orquestrada em regime de urgência urgentíssima. Nesse tabuleiro lúdico, uma jogada bem se encaixa: a queima de estoque feita a toque de caixa com a parceria da Caixa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante essa leitura, e necessária. Acrescento um dado importantíssimo: o candidato a vice-reitor, professor João Batista, votou hoje, dia 09/09, pela terceirização do Hospital de Santa Maria, da SES DF. O professor é representante do Conselho de Saúde do DF, enquanto gestor, e se negou, inclusive, a apoiar o pedido dos trabalhadores que solicitaram aumento do prazo para discussão e elaboração de um parecer. O professor não participou de nenhum debate promovido por entidades que estão representadas pelo conselho, e contrário às discussões de entidades de trabalhadores, das recomendações do Ministério Público e do Tribunal de Contas do DF, aprovou, com seu voto, a terceirização do referido Hospital. Tal fato se torna ainda mais crítico quando analisamos como se deu o processo de aprovação, com manobras desrespeitosas do atual governo para desmobilizar e desqualificar o debate, pressionando o conselho a votar sem qualquer discussão. Por fim, após alguma pressão, levaram a reunião da votação para ser realizado em Santa Maria, alegando democratizar e criar espaço de discussão. Que discussão é essa que coloca as pessoas num espaço perverso onde o que se vê são usuários e trabalhadores se agredindo, sem nenhuma leitura crítica de todo o processo? Levar pessoas que sofrem há muito pela falta de vontade política desse governo em implementar uma saúde pública de qualidade, para se posicionarem, dizendo que quem não queria abrir o hospital era o conselho, e não eles? Perversidade! Perplexidade! Impressionante como usam o argumento da democracia e do debate para reafirmarem sua política clientelista, coronelista e neoliberal. O controle social da saúde sofreu um golpe muito forte hoje, em Santa Maria...
Fico preocupado com o que a atitude do professor representa, tendo em vista que a terceirização é em favor de Organizações Sociais, teoricamente sem fins lucrativos, processo este muito semelhante às fundações que existem hoje na universidade, e que sabemos a discussão que está por trás disso. Se o professor, que é médico, professor e trabalhador da saúde, não defende a saúde pública e o SUS, o que o impediria de tomar iniciativas semelhantes pela educação pública? Fico realmente muito triste e preocupado, e espero que vocês consigam pautar essa discussão nos debates que farão com os demais candidatos, para que caiam as máscaras, e as pessoas assumam, de fato, a que vieram!